Produto vai falhar no Marketing
Airbnb incendiou o mercado de produtos digitais nos últimos dias criando uma possível onda de problemas nas empresas que desejam imitar
Um post do camarada Paulo Chiodi me chamou atenção há alguns dias, me alertou sobre um possível mau entendimento sobre as origens da literatura e disciplinas de Produtos Digitais, pior e principalmente, como administra.
Que meus amigos de Vendas e Marketing não se incomodem, vocês já são protagonistas nas empresas, mas a gestão de produto digital não pode ir para suas áreas, vocês serão os principais prejudicados.
Colocar o papel de Product Manager para áreas de negócio é o pior cenário que existe, vai retroceder anos ao pouco que conquistamos em muitos mercados, explico na sequência.
Produto Digital iniciou na tecnologia
Já existe pelo menos umas duas gerações que nasceram na era “consolidada" da cultura de produtos digitais.
Mas devo lembrar os mais velhos e esclarecer os mais jovens, produto digital veio catapultado pelo movimento Agile, não esse Agile de vender curso pra ganhar 10k de quem nunca entregou um Software na vida.
Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver Software
Vários Gurus dos futuros (agora passado) métodos ágeis estavam construindo novos modelos de como entregar Software durante os anos 90, desde os anos 80 que a influência do modelo da Toyota estava revolucionando toda a administração clássica.
O artigo “The New New Product Development Game” do longínquo ano de 1986 já influenciava alguns dos principais nomes, como os pais do Scrum, Framework Agile que venceu a corrida após a promulgação do Manifesto ágil em 2001.
O artigo de 86 já falava muito bem sobre como desenvolver produtos (aqui ainda não focado em digitais) com um novo modelo iterativo e incremental, no artigo “SCRUM Development Process” do Ken Schwaber de 1995, já tratava com exatidão sobre o papel de Product Manager (inclusive sem ter estragado o nome com Owner):
Gerenciamento: Liderado pelo Gerente de Produto, define o conteúdo inicial e o tempo da Release, então gerencia sua evolução à medida que o projeto avança e as variáveis mudam.
O gerenciamento lida com backlog, risco e conteúdo da Release.
Outros métodos, como XP (Extreme Programming), estavam trazendo à tona a necessidade de utilização da teoria de construção de produtos, o gerente de projetos foi dividido entre vários papéis, dado essa necessidade de trazer a construção de produtos para o digital com toda a literatura dos últimos 200 anos.
Ao longo do tempo as pessoas de tecnologia não conseguiram avançar sobre um dos principais problemas do mercado, alinhamento entre TI e negócio. Além disso, a complexidade em todas as jornadas evoluiu muito, não permitindo tempo para um mesmo papel executado por um mesmo líder.
Eis que se consolidou no mercado uma duplinha marota, um administra e tem Accountability (o seu na reta) no Roadmap do produto e o outro tem Accountability na entrega. Ambos acompanham e zelam todo o ciclo de vida deste produto, na prática…
Em tese não necessitaria de um novo curso de produtos digitais ou até mesmo uma área nova dentro das empresas, já que isso deveria ser natural, principalmente se a empresa já constrói e vende produtos físicos. A disciplina e os cargos nasceram e evoluíram dentro de Tech e foram penetrando e ganhando subdivisões cada vez mais fortes.
Nativos Digitais como o Netflix são bichos diferentes
Netflix anunciou um Re-org recente, agora tem dois CEO ou algo parecido, o Greg Peters que era CPO se tornou um desse co-CEO, mandava em produto e agora co-manda no negócio todo, o homem é engenheiro de Software, vem de Tech.
Netflix tem uma VP de engenharia, Deborah Black, nem chama mais de CTO por nem precisar e nem fazer sentido, afinal Tech e Produto são culturas simbióticas no digital, você ainda tem - provavelmente - um CIO.
O Airbnb é como o Netflix, nasceu em volta de um produto, com todas as áreas respirando e trabalhando num modelo operacional diferente de empresa que nasceu há 50 anos e passou todo seu ciclo funcionando num modelo Projeto/Sustentação.
Imitar o Airbnb vai ser tipo colocar Spotify Model
Vai falhar miseravelmente!
O mercado entrou em recessão afetando pesadamente a área de tecnologia, tanto lá fora, quanto aqui no Brasil. O discurso nas empresas é de redução de custos, otimização dos recursos e pelo menos nos próximos 24 meses ninguém quer ouvir falar de Growth, Transformação e, coitado do termo, Discovery.
O ciclo de vida do produto digital é preditivo, existe uma engenharia e um modelo operacional para descobrir, construir, entregar e operar em produção, que as áreas de vendas e Marketing das empresas mal fazem idéia do que existe fora da dimensão que conseguem enxergar.
O Discovery sempre foi mal confundido com “invenção” e P&D, inovação sempre confundida com “disruptivo” e isso causou uma disfunção absurda sobre o que é Discovery.
Um dos grandes problemas com a atual geração de PMs, mais forte com quem não veio da engenharia, é a pouca familiaridade com as dimensões “ocultas” nas jornadas fora do Discovery.
O gasto de energia no dia a dia é muito maior acompanhando a operação do produto em produção, garantir que a entrega está sendo realizada conforme se entende e bem menor é o esforço com Discovery.
Nessa era de recessão, PM que não acompanha e entende o mínimo necessário para um bom Delivery está ameaçado, por isso também tem crescido forte a "disciplina” de ProdOps. O curioso é que são justamente os nativo-digitais que iniciaram suas áreas de ProdOps, vale a gente entender isso em posts no futuro.
Se PM dentro de Tech hoje já tem essa dificuldade, imagina alguém que está muito lá na ponta.
Produto e Tech pode ser o mesmo cargo?
Quando o produto é Customer-facing, quase impossível você não ter os dois papéis, primeiro que nem vai dar tempo de fazer o que se precisa fazer, tem que equilibrar muito bem UX e Tech, gravei um papo super interessante sobre isso há algum tempo com Bruno Pereira e Emerson Macedo. Trouxe um recorte disso na sequência.
Ainda não consigo visualizar uma empresa que precisa ganhar Skills e cultura de produtos digitais sem a dobradinha clássica de PM e TM e ambos vindo de Tech para o negócio.
Acompanha a Newsletter que vou aprofundar essa questão em empresas que nasceram e ainda tem forte cultura de projeto.
Nova turma do Curso de ProdOps
Se achou o texto interessante e quer aprender mais sobre isso, temos um curso de ProdOps que aborda e desenvolve este tema e muito mais, observa no link a próxima turma e vem trabalhar o conceito conosco.